terça-feira, 13 de dezembro de 2011

A PEDRA DO PERDÃO

Bartolomeu bateu por três vezes na pedra do perdão, escassa esperança possuía em seu coração para que ela se despedaçasse. Esbravejando, empenhou-se mais uma vez e  voltou a bater-lhe por mais três vezes. Observou que a resistente rocha não se esfacelava, nem tampouco conseguira retirar lhe um estilhaço. Jogou-a de canto e continuou a seguir seu caminho.
Nobre e solitária pedra do perdão, resistente as intempéries, permanece à margem do caminho dos homens. Astuto são aqueles que se arriscam em quebrá-la, gloriosos são os que conseguem!
Por muito tempo a pedra do perdão foi olhada, porém incompreendida foi esquecida. Era muito resistente a aqueles frágeis de mente, dura e pesada aos que de ego se alimentavam. Nem mesmo os altruístas de plantão ousavam quebrá-la, tinham medo que sua verdadeira essência se revelasse.
Muitos homens se parecem pequenos cachorros domésticos, dentro do lar são corajosos e valentes, murmuram alto e possuem razão assustadora, mas basta que lhes abram os portões para colocarem o rabo entre as pernas e andarem escondidos pelas sombras de seus próprios medos.
Havia homem no mundo a quebrar tal pedra? Homem corajoso e despossuído de mascara? Homem com a bravura e o equilíbrio da mulher? Homem com a curiosidade e a leveza de uma criança? Homem vivaz e com sede de aventura como o jovem? Homem de maturidade e paz espiritual como o idoso que soube envelhecer? Enfim, homem de espírito suave que prefere a sapiência do presente à ilusão do amanhã? Passou naquela manhã tal homem, que despercebido tropeçou na referida pedra:
- O que fazes aqui pedra tão dura e resistente? Nesse caminho não passara ninguém que saiba utilizá-la.

E o homem desprovido de hipocrisia coletou a pedra com esmero e a colocou em seu rude saco de couro. De volta ao lar, o sábio das coisas simples da vida, não desejou quebrá-la como o anterior. Com areia e água pôs a abrasar a rocha bruta. Com muita dedicação e trabalho ornamentou a pedra do perdão deixando-a mais polida e lustrada.
Quando terminou o árduo trabalho, que não se mediu em tempo, mas sim em empenho, olhou bem a pedra que acabara de polir e reparou que ela refletia sua própria imagem, todas as suas ações, seus movimentos e seus atos, tudo era capturado e refletido pela pedra polida do perdão. Observou o homem singelamente que não se deve esquecer ou simplesmente quebrar uma infeliz lembrança. Para que se possa perdoar alguém ou a si mesmo, deve-se polir tal lembrança e reparar com certo esforço que o que fazem a você é puro reflexo do que você faz aos outros. E assim, o homem passou a refletir melhor sobra à vida, sempre pela ótica da pedra polida do perdão.

(David Lugli)

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