terça-feira, 13 de dezembro de 2011

A CRIAÇÃO DE PERCEU



Perceu era um ótimo criador. Suas idéias fecundas floresciam de suas espontâneas leituras. Orgulhava-se por seu salutar hábito de entreter-se com o mundo cognitivo de vários pensadores que transcenderam o espaço onde viveram e o tempo de suas existências.
Certo dia, Perceu resolveu criar, através dos mecanismos da imitação e adaptação, um interessante artefato da Índia antiga. Era um instrumento que podia ser transmitido por todas as gerações através de seus princípios simbólicos que a priori formavam uma aliança útil com o entretenimento.
Aplicou-se a causa. De fato, a invenção é algo que exige de seu criador. Transforma algo abstrato em coisa concreta, exige tempo, aprendizado, empenho e imaginação.
Os segredos da criação desse artefato fazem parte da memória de seu criador e das antigas escrituras da Índia. Quem se interessar por tal objeto deve, por si só, esforçar-se a encontrá-lo. Nesse mundo nada é gratuito e o esforço é a porta de entrada para a casa da satisfação.
A criação foi bem sucedida e Perceu se encantou com seu artefato, materialização de idéias antigas vindas do misterioso oriente. Ele usava tal objeto sempre que podia, tanto para realizar atividades cotidianas quanto para auxilio a interpretação do sagrado: “essas coisas que vem do alto e são incompreensíveis a maior parte das pessoas”.
Aquela obra foi uma ação criativa memorável. Funcionou como um portal mágico entre os antepassados e o jovem Perceu. Quando materializado trabalhava como um decodificador dos mistérios do mundo, um alimento reflexivo e uma forte energia para a meditação transcendental.
O artefato que era perene não se dissolveu no transcorrer do tempo como seu criador. Perceu ficou, mas suas idéias transporam as barreiras da história.  O objeto místico passou de mãos em mãos até os dias de hoje. As diferentes gerações deram diversos e novos significados ao artefato de Perceu.
O objeto no decorrer do tempo caiu no descaso e na ignorância daqueles que são inoperantes nesse mundo. O mecanismo que outrora servia para reavaliar o conhecimento transcendental e perene do mundo das idéias, hoje é símbolo da banalidade e do mau gosto. Tornou-se o reflexo de uma sociedade perdida em meio ao caos do tempo e do espaço profano.

(David Lugli) 

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