sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Goiabeira
de miúdos frutos
Plena manhã.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Desabrochar 
da amarela flor do Ipê
Nova alvorada

(David Lugli)

domingo, 18 de dezembro de 2011

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

BRINCANDO COM POETAS EM POESIA

Eu não tenho mais minhas antigas MORAES
Nem minha poesia agora parece ROSA
Eu não escrevo para dar BANDEIRA
Eu não crio verso copiando de outra PESSOA!

Quando faço um poema sujo
Eu OLAVO de puros sentimentos
Não que eu CASI meus versos
Mas sempre MIRO bem as palavras
ABREU seus pensamentos?

Minha poesia é como um MACHADO
CUNHA toda minha experiência,
Minhas virtudes, erros e memória.
O TOM que tenho agora
É a mistura completa de tudo que leio.

Miro o céu e canto AUGUSTO DOS ANJOS
Procuro algum enigma entre arestas
Entre os MATOS e as florestas.
Recolho alegremente simples RAMOS
CASTRO assim, toda minha escuridão sentimental
Bato em retirada dessa vida cotidiana.

Aqui, nesse outro mundo
Crio novos amigos REIS
Navego entre CAMPOS de imaginação
Brinco com poetas e poesia
Invento versos e faço primazias!

(David Lugli)

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

BORBOLETA AZUL

O primeiro bater das asas de uma borboleta azul foi percebido por um monge Zen que meditava na pradaria. Logo após sua costumeira inflexão o monge foi contemplado por um suave minuano - e a borboleta se foi.

(David Lugli) 

ELEGIA A SOCIEDADE MODERNA

De tristeza morreu nossa sociedade
Há tempos acusava o sintoma da vaidade
De amor infinito Deus foi-nos tirando a piedade.

A auréola que nos cercava - enfraqueceu
A espada que deveria ser tirada - permaneceu
O ar alto que nos sobrevoava - desceu
O azul claro que nos encantava - enegreceu.

Na esfera da solidão perdeu-se essa era
Deveras termos nos dado as mãos a quem quisera
Os medos atrás dos arvoredos silenciaram-se em mistério
O não cumprimento de nosso dever fez sucumbir o império
Inutilmente erguido por anos, que em segundos foi-se numa guerra.

O claro dos olhos - envolto a cerração
O cumprimento da lei - agora desorientação
A afirmação da vida - é morte ocorrida
Cercava-te de paixão - presente ilusão
A luz da iluminação - somente confusão
A vida antes vivida - enfim é finda.

(David Lugli)



O FLAUTISTA

Dizem que uma flauta pode ser mágica
Que sua sonoridade pode fazer um ser meditar
Olhar aos céus e compreender Deus
Tocar as chamas sem se machucar...
Sentir os pés nos chãos
E descobrir que se esta flutuando

Suas suaves vibrações
Fazem nos alegrar
Sentir um inalcançável estado de paz
Que jamais se perpetuará em nossos corações
Faz desabrochar as flores
Faz cair o pingo de água no chão
Faz com que a tribo dance
E mostre suas brumas para o mundo
Faz-nos sentirmos irmãos de paz
Em um mundo de inimigos de guerra

Que passe o flautista
Pelos meandros do mundo
Fazendo as folhas ficarem verdes
E os corações vermelhos de amor

Que flutue o flautista
Colocando todas as coisas
Em seu devido lugar
Clamando pelos espíritos
Fazendo reacender a alma
Tirando todo o peso do corpo
Abrindo todas as correntes

Que o flautista simbolize a paz
Que cada um viva o outro
Como o flautista
Vive sua flauta

Vá flautista
Vá...
Não se mostre a essa gente
Mas, que de geração em geração
Passe por nós
E nos faça um segundo de sossego
Avivando e amando
Sua doce e mágica flauta.

(David Lugli)

SAHAM

Da pequenina semente
Vi nascer uma imensa árvore
Da mais desprezível lagarta
Vi desdobrar a mais linda borboleta
Do mais árido deserto
Vi nascer a mais bela das religiões
Do homem mais simples
Contemplei o mais nobre pensamento
Do singelo olhar daquela mulher
Pude ver o mundo inteiro.

No suave balé das brumas
Vi meu rosto e o de Deus
E ele estava lá!
Assim como na semente,
E na árvore, e na lagarta,
E na borboleta, e no deserto,
 E em todas as religiões,
Ele estava lá!
Serenamente calmo
Como aquela Figueira centenária
Como as palavras do Mahtma
Como o espelhado da lua
No despreocupado lago.

E as brumas se dissiparam
E senti uma enorme ansiedade
Pois, não via mais o meu rosto
E não sentia mais Deus.

E tudo se foi,
As sementes, as árvores,
As lagartas, as borboletas,
Todas as religiões,
Até a nobre lua se foi!
E com elas toda a minha percepção
Pois me esqueci que eu era ele
E ele também era eu.

(David Lugli)

GRÃO

Um pequeno grão de qualquer vegetal precipitou-se sobre o solo. Naquela fofa terra, em meio a um frondoso bosque, nasceu uma nova vida. Hoje, escrevo embaixo dessa majestosa árvore e contemplo os mistérios divinos.

(David Lugli)

DIVERSAS FACES DE UM BOI

Pereceu no pasto de velhice o boi da cara preta. O tempo degradou-o e seu crânio ficou exposto na superfície. Sendo recolhido, prestou-lhe homenagem, metade de sua face conservou-se em morte e na outra multicor - era carnaval.

(David Lugli)

JAZ UM GATO

O escorpião vermelho serpenteava sua calda ameaçando o intruso gato. Como uma lança sua ferroada cravou-lhe no nariz. Passados alguns minutos o felino empeçonhado com mortal veneno jazia em um bueiro escuro da cidade. 

(David Lugli) 

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

A REFLEXÃO SOBRE O OBJETO

Aqui venho narrar em breves palavras o obvio, porém a verdade! O problema de observar as situações, os momentos, suas características e mudanças são que suas verdades pessoais aos poucos, e no decorrer do tempo, vão se esvaecendo até se tornarem fumaça. Uma fumaça incontrolavelmente sem forma, a primeiro momento, que ao sabor do vento vai se modelando e se transformando em outras novas verdades.
É assim que uma verdade se estabelece, se transforma, remodela-se e se restabelece. Todas as verdades existem para serem transformadas. Quando ela existe no tempo presente, se fixa no pensamento humano o coordenando e direcionando os nossos anseios e ações.
Ao contrario das verdades que são abstratas e aparentemente mutáveis temos os objetos, que são concretos em essência e aparentemente imutáveis. São eles, exatamente, a forma de quem os criou, ou melhor, são a própria materialidade do pensamento de quem os fez. Os objetos são imutáveis porque são pensamentos congelados, materializados e cheios de intencionalidade e desejos. Ao mesmo tempo são simbólicos e funcionais, são os testemunhos de nossa existência.
O objeto a primeiro momento foi criado para dar a luz ao pensamento no sentido literal da expressão. Tendo colaborado em sua função primogênita servirá de legado para o futuro. Outras pessoas o verão de formas e simbologia diferenciadas daquela na qual foi primeiramente criado. Muitos olhares irão interpretá-los, mas nenhum irá decifrar seus segredos pessoais ocultos.
Os olhares mudam e junto a eles as interpretações, transformando assim as próprias verdades - o que era ontem hoje não é mais - o belo e o religioso do passado se transformam em exótico no presente. Meu próprio pensamento não me deixa mentir, passou, transformou-se desde que pincelei as primeiras palavras desse texto, mas o objeto, esse continuo estático, justo e fiel, representa calado e discreto estritamente o pensamento de seu criador.

(David Lugli)

O MEIO

INTRODUÇÃO:

Costumamos dizer, de forma simplificada, que em geografia o que se estuda é a relação do homem com a natureza em um determinado espaço. Essa frase é batida e perpassa por todos os livros didáticos e sobre todos os pensamentos sintéticos dessa disciplina.
Neste artigo vamos falar justamente sobre essa relação – mais uma vez – no entanto, se esforçando ao máximo em narrar o fato em outros dizeres.
Primeiro não iremos usar nenhuma corrente teórica explicitamente. A proposta é dialogar de maneira aberta e instrutiva, sem nos restringirmos as dimensões acadêmicas, que separam a sociedade da universidade.
Segundo, é bem verdade, que sem conceitos definidos não chegamos a lugar algum. Os conceitos são ferramentas, nas quais nos utilizamos para trabalhar as idéias.
E terceiro não usaremos referências diretas a outros atores que pensaram sobre o tema. As idéias propostas se valem de inúmeras obras, pelas quais, não irei tratá-las especificamente, mas trabalharei a forma dos filósofos ou livre-pensadores, se isso me for possível.

O QUE É O MEIO:

A respeito do titulo escolhemos “o meio”, pois, é a chave e o conceito principal a ser discutido nesta idéia escrita. O meio é aquilo que não está nem em uma nem em outra dimensão. Ele é uma ponte entre ambas. Quando falamos de homens e sociedades, falamos de cultura. Quando falamos de natureza, falamos de selva, florestas, desertos, glaciares; falamos daquilo que passa fora da cultura humana, o desconhecido, o a “se buscar”. Dentro dessas duas dimensões, que não são excludentes, existe o meio, a ponte, a ligação, a dimensão pela qual a interação do homem se faz com a natureza. Sem o meio, o homem seria alheio a natureza, mesmo vivendo sobre ela.
O meio é o espaço de vida dos homens. É por onde a sociedade encarna na natureza. É quando olhamos para uma paisagem e vemos nossas próprias marcas. Ele não é o desconhecido, ele é a cultura e a natureza juntas, é um híbrido. O meio também encena a nossa história. É lembrança, são fagulhas de emoção, é testemunho físico de edifícios e construções, mas também, é testemunho de nossas recordações.
O meio também é equilíbrio, e se isto não for mantido, se isso não for representado, o meio, então, deixa de existir.

E SE O MEIO NÃO EXISTIR:

Em nosso pensamento, se o meio vier a não existir, se essa relação mutua entre homem e natureza não se valer mais, então uma irá se sobrepor a outra de maneira não amistosa. O meio, como já disse é o equilíbrio, e se esse encanto se quebrar, a vida se torna um reflexo, uma ação sem motivo, uma existência sem proposta.
É difícil entendermos o que é simples, divino e natural. O homem é produto da natureza, assim como as demais espécies ele é vida. O que não é vida na natureza, serve para sua manutenção. Assim é a “vida” da água, das rochas e da terra, gerar a essência de vida para as espécies. Esse é o equilíbrio natural e essa é a forma mais simplificada de se ter consciência disto. Isso é o meio.
Se o homem subjugar a natureza e tratá-la como mero recurso, então não haverá equilíbrio, nem haverá respeito com o meio. Ele certamente deixará de existir. O meio já deixou de existir em alguns cantos da terra, que só podem estar literalmente “vivos” ainda hoje, porque o meio ainda sobrevive em outros lugares. Sendo ele vida, ele é energia, e ainda alimenta as vias e circulações da terra – Já enfraquecida.
Essas palavras não são de cunho catastrófico. Nem é um alerta e muito menos uma previsão. Não o são, porque, não falo aqui apenas de homens. Falo de vida, na qual o homem faz parte. Preocupo-me com a vida na terra e sei que esta está, apenas, parcialmente ameaçada pela falta de equilíbrio do homem moderno. Digo assim, pois, sabendo um pouco sobre a história da terra, percebemos que ela, e apenas ela, é o poder criador e destruidor de vidas. O homem é parcial, interfere sobre a terra, mas não é o agente único e mais poderoso, como muitos deles acham que são. A terra é uma imensa massa de matéria e uma imensa massa de energia, infinitamente maior que a massa e a energia de toda espécie humana. Não era para ser assim, dividido, duas partes, homem e terra. Tudo era para ser uma coisa só, o homem-terra, o filho-mãe, a “essência terrestre”. Soa holístico, mas não conheço de fato essa teoria. E dessa unicidade, que hoje não existe, sobrou o meio, como testemunha da essência única.

A PARTIR DO CONCEITO DE MEIO, COMO PODEMOS PENSAR EM “AÇÃO”:

Muitas vezes é difícil passar do plano das idéias para o plano físico e material. Temos em mente que vivemos uma existência dual. No entanto, achamos necessário que nos aproximemos da unicidade, da confraternização entre o homem e a natureza. Para isso precisamos de mediadores, no qual, nesse texto, apelidamos de meio. Esse é o seu papel, mediar relações aparentemente opostas, as tornando conjuntas e transponiveis. O homem por demais já avançou na oposição. Necessitamos agora buscar o meio em todas as dimensões para diminuir as disjunções. E é no plano físico que isto se faz necessário.
Não importando onde moramos, seja na cidade ou no campo, ou até mesmo nas florestas e bosques, sempre há como se buscar a união, através dos mediadores. Ferramenta simples e eficaz, o mediador sempre andou junto ao homem primitivo. Talvez seja por isto que esses povos respeitaram tão bem a natureza. O mediador funciona como um interlocutor entre um e outro, entre as oposições aparentes. Para citar um exemplo: Até hoje, estávamos mergulhados nas oposições. Subjugávamos a natureza. A destruímos por completo em alguns pontos. Não sentíamos a sua aniquilação. Hoje o homem já tem a necessidade de reatar a sua união. Para isto foram feitas as legislações de proteção ambiental, por isso surgiram disciplinas para tratar o assunto – como a ecologia - novos ambientalistas assumem a postura de defensores da natureza com projetos criativos, e a cada dia se valorizam as culturas indígenas que ainda são detentoras desses saberes.
Se você vive na cidade e quer reatar-se com a natureza, com o todo, use o mediador do produtor. O produtor é aquele que fornece a vida através de seu trabalho e de sua sensibilidade. Compre vasos, alimente a terra com material orgânico que usa em seu dia a dia. Guarde as sementes dos alimentos que consome. Plante-as, cuide-as e as colhas. Isso é mediar, reatar a união, atravessar a ponte que liga o homem à natureza. Ou então, se viver no campo ou na floresta, e já está acostumado a ser produtor, seja, então, um manejador. Maneje e enriqueça a natureza disposta ao seu redor. Faça um banco genético de mudas. Passe o dia na floresta coletando sementes da mata e as replante em lugares degradados, as reproduza. Enriqueça a ti e a sua natureza ao mesmo tempo, quanto mais mediar, mais reduzirá as oposições que nos separam.
Pronto, é simples assim. Você poderia dar mais um milhão de propostas. Seja criativo, seja mediador e reate os laços que foram perdidos em um momento da história.

(David Lugli)



ESSÊNCIAS E AROMAS NATURAIS

“A vida não espera de nós sacrifícios inatingíveis, ela apenas pede que façamos nossa jornada com alegria em nosso coração e para ser uma benção para todos aqueles que nos rodeiam. Se nós fazemos o mundo melhor com a nossa visita, então nós cumprimos nossa missão” (Edward Bach).


Não poderia deixar de inaugurar este texto fazendo uma homenagem à vida, essa viagem diária rumo ao aprendizado. É-nos dado, de graça, o poder do conhecimento. Todos os dias de nossa existência podemos aprender sem limites, com perseverança e ação, sendo sempre de bom grado repassar os conhecimentos obtidos aos nossos companheiros. Que o conhecimento ilumine nossa vida e nos faça um aprendiz eterno e um instrutor compreensível.
Neste pequeno artigo pretendo lançar as primeiras fagulhas de luzes sobre o tema: Essências e aromas naturais. Nesta etapa não nos atentaremos, simplesmente por desconhecimento da ciência, a particularidades fitoterapeuticas que as plantas possuem. Iremos, sim, mostrar como podemos extrair os óleos presentes nas plantas e aromatizar nosso ambiente com perfume natural através de técnicas caseiras.
Em nossa busca, por esclarecimento do tema, encontramos quatro procedimentos para se extrair os óleos essenciais das plantas. Começaremos do mais simples para o mais complexo:
1-                               Extração por álcool: Geralmente usado na manipulação de cascas de frutas cítricas (limão, laranja, tangerina, etc.). Colocam-se as cascas de frutas junto ao álcool de cereais em um recipiente de vidro. Vede bem o recipiente com cera de vela e deixe por dez dias em lugar seco e escuro. Usar como essência aromática nos ambientes ou nos alimentos.
2-                               Extração com solventes voláteis: Deixe as plantas imersas a um solvente químico, de preferência acetona, que irá extrair os compostos aromáticos da planta. Do produto fornecido dissolva-o em álcool de cereais para a remoção do solvente. Evapore o álcool e obtenha o absoluto, geralmente, usado para perfumaria.
3-                               Floral: Baseado nos florais de Bach. Neste artigo sua utilização será simplesmente para produção de aromas, sem fins medicinais. Colha as flores que lhe convêm (por apreciação de seu aroma) pela manhã e as coloque em um recipiente. Evite o contato das flores com a mão. No método solar colocam-se as flores em um recipiente, acrescentando água até encobri-las. Deixe-as expostas ao sol por 3hs. Este método é favorável as flores de primavera e verão. No método de fervura colocam-se as flores em uma panela de inox coberta com água e fervida por 30 minutos. Apague o fogo e deixe a esfriar perto da planta. Este método é favorável as flores de outono e inverno. Nos dois métodos a água é coada e colocada numa garrafa com 50% da solução obtida e 50% de álcool de cereais. Desse processo obtêm a essência aromática das flores.
4-                               Por hidrodestilação: O quarto procedimento não é o mais complexo em sua estrutura metodológica e sim por sua aparelhagem. Na primeira etapa a folha ou a raiz da planta deve ser triturada ou cortada. Posteriormente, coloque-as em uma panela e acrescente água até tampar as folhas. Leve ao fogo. Adapte uma tampa a panela que possua um orifício onde possa passar uma serpentina. Vede o orifício da serpentina com durepox ou outro material semelhante. Mergulhe a serpentina em uma bacia com água para condensar o material evaporado. Coloque o óleo essencial condensado em um frasco, obtendo assim sua essência.

Esses quatro métodos nos possibilitam extrair a essência das plantas, seu poder, sua alma, seu aroma.
As plantas possuem óleos essenciais em todas as suas partes vitais, desde suas raízes, cascas, frutos, flores até suas folhas.
Dentre as essências mais extraídas das plantas estão:

1-                               A folha de laranjeira; estimulante da sensualidade, sedução e do prazer.
2-                              Da laranja doce; essencial para relaxamento em banhos.
3-                              Da rosa; utilizada para relaxar o ambiente, além de ser usada no tratamento da pele.
4-                              Alecrim; estimulador da memória e combatente da fadiga mental.
5-                              Limão; com ações calmantes.
6-                              Da folha de eucalipto; aromatiza o ambiente

A partir dessas técnicas simples e caseiras podemos produzir nossas próprias essências aromáticas com simplicidade e bom gosto. Poderemos melhorar nosso ambiente com perfumes naturais e vivenciar o poder que a natureza nos concede. Bom Proveito!

(David Lugli)



ORIENTE

O sol já nasceu. Olho com a ponta de meus olhos o vermelho fogo que invade os céus. Como um pássaro, levanto voo. Semelhante a águia plaino sobre o ar e vejo os homens. Observo-os com os olhos de uma rapina e rio deles como ri a boca de uma hiena. Gracejo dos homens e das mulheres e zombo dos velhos e das crianças, acho graça no vadio cachorro que atravessa a rua sem ser atropelado. Também fico triste por eles. Essa tristeza que é sempre dor, imperceptível e inconsciente.
Hoje acordei desse breve sonho e disse a mim mesmo que continuarei a sonhar amanhã. Sonhar é bom, renova o espírito e limpa à alma. Sonho é tão irreal, porém verdadeiro, é agradável embora perigoso. O sonho por vezes se torna pesadelo e temos assim que nos vigiar. Dentro de nosso corpo habitam diversos espíritos que chamamos, por falta de sapiência, de sentimentos. Esses distintos seres podem vir à tona de nossa consciência ou enraizar-se nas suas profundezas. Depende do uso que você faz deles. 
Falando sobre sonhos e pesadelos, um é oposto do outro como o dia e a noite, apesar de ambos serem igualmente conscientes e inconscientes. Assim como na vida, trazemos para nosso sentido o que bem entendemos e isso se chama livre arbítrio. Agimos porque queremos, mesmo que em algumas ocasiões essa ação seja contra nossas vontades. É como sonho que se torna pesadelo, indesejável momento pedido por nós!
Essa noite sonhava que era um Jaguar, uma fera enorme toda negra perdida na noite. Eu era como o próprio filho da noite, escuro, invisível, misterioso e tão notável. Meus olhos eram como estrelas, amarelados, brilhantes, admiráveis e ao mesmo tempo observadores. Observava tudo, o sussurro do vento, a canção das arvores e o suspirar dos animais que entravam na viagem do sono. Enquanto todos no bosque dormiam, apenas eu, um enorme Jaguar estava desperto e disposto. Enquanto todos se aventuravam no reino da fantasia, eu construía meu próprio mundo, solitário como um felino deve ser.
Por ultimo, nessa linda noite, sentei sobre um enorme rochedo que estava acima de tudo e de todos - era incrivelmente uma montanha de pedra. Lá nem mesmo os símios podiam escalar, acima do maior carvalho, acima da mais alta palmeira, onde se podia do topo enxergar as nuvens abaixo. Nesse rochedo onde apenas o Condor podia sobrevoar, ou quem sabe a imaginação de um ou dois poetas durante o sono eram capazes de adentrar, que eu, uma solitária fera, sentei.
 Soltei um rugido estrondoso, tão alto que ainda sim ninguém na floresta pode ouvir. Nesse momento, sobre o oriente, o maior de todos entre nós da natureza surgiu suspenso no ar. Tudo gravitava a seu redor, nada era maior que ele. Despertou e sussurrou como se dissesse: “não devo nada a ninguém e de mim o dia nasce e tenho o poder de acordar todas as criaturas desse mundo”. Nesse instante quando o sol pintou o céu de vermelho, eu, assim como, o astro maior despertei.
Em forma de homem acordei de um sono profundo tendo em mente um único objetivo: voltar a esse mundo maravilhoso todos os dias de minha vida, para depois acordar e novamente ter o mesmo desejo.

(David Lugli)

Metamorfose

Eis o casulo:
Antiga lagarta
Futura borboleta.

(David Lugli)

Sol no lago

O sol brilha alto
Dourando o lago:
Calmaria de verão!

Meditação

Abaixo da árvore
Corpo acima do chão:
Tempo em suspensão.

CASA DA SOLIDÃO

Forte é o sepulcro do preso
Cárcere em sua casa morta
Apenas é fantasma que sonha, em sua cama torta
Que é menino pássaro indefeso.

Sua casa que é uma cidade dentro de outra
É um assombro interminável de corredores
Por onde ecoa os seus gritos, lamentos e dores
Que ninguém houve e se importa só a parede encontra.

Queres tomar um novo caminho?
Mas, sem fé desvia-te, pois todos estão tomados
Aí se senta a ler jornal, ver TV, pobre de seus pensamentos
Que te enlouquecem em ódios condensados.

Ninguém te mandou ter nascido assim, tão errado
Ignorante das coisas sem fim, espalhado em mil pedaços
E dormes a ter cuidado, pois o que te espera
É um rosto sem cara e um coração mal-amado!

(David Lugli)


ARQUEOLOGIA

Criados por antigas mãos
Sagrados, amados e mudos
Tragados pelo tempo lento, vãos
Submergem nesse novo mundo.

Mãos em brando movimento
Descobrirão os objetos taciturnos
Revelarão de um só jeito
O passado de novos futuros.

E, se olhares ao seu redor
Nas paisagens verás seus pares
E pelos ares, fará seu pobre julgo.

Do que fazes saberás por amor
Que os pensamentos se tornarão pesares
Sobre aquilo que era vivo e tornou-se vulgo.

(David Lugli)

FEITO SOL SOBRE O EQUADOR

Tremulantes e desequilibrados pensamentos
Assolam-nos em passados momentos
Palpitando o fraco coração, ferindo a emoção,
Jogam-nos sem tempo em aterrorizantes sofrimentos. 

Eis que surge o vento (acalento), suave brisa
Transformando a estrofe passada em nova canção
Vagarosamente nos recordando antiga lição
De que tudo é passageiro em meio ao turbilhão.

Depois de saciado o fogo destruidor
As brumas derradeiras finalizam o ardor
Trazendo ao peito outra chama chamado amor.

Preenchendo o vazio cenário de nova cor
Saímos do pólo de escuridão e dor
Iluminando-nos feito sol sobre o equador.

(David Lugli)

DIÁRIO DE BORDO: DESERTO DO ATACAMA E ISLA DEL SOL

Dentro de um acampamento de base em pleno deserto do Atacama esboço as seguintes palavras. Olhando através da imensa paisagem vejo o grande deserto, uma mistura de inspiração e vontade me fazem escrever essas linhas. As lembranças afloram como os grandes lagos do deserto. Sua riqueza geográfica e cultural é fundamental para essa memória.
O deserto que agora admiro é paisagem em território Boliviano, mas venho vendo essas semelhanças geográficas desde Arequipa no Peru. No Chile ele é tão esplêndido como aqui na Bolívia.
Os aspectos físicos se misturam com a história e a cultura Andina. A cultura desses povos é extremamente rica e é impossível dissociá-la da paisagem.
Historicamente muitos grupos humanos viveram nessa região e muito de seus testemunhos ainda estão presentes. Os Incas, com certeza, foram os mais famosos, mas também houveram outras culturas, outros povos, como os Tihuanacos, antigos habitantes das planícies próximas ao Lago Titicaca, entre a Bolívia e o Peru. Eram hábeis construtores de pirâmides de pedra. Adoravam Pachamama, mãe do tempo e de toda a natureza. A cidade de Tihuanaco, hoje escavada por arqueólogos, apresenta toda manifestação da cultura material desses povos. Entramos na cidade e nos deparamos com uma pirâmide. Não é uma convencional, como as Egípcias que costumamos ver nos documentários. São pirâmides com terraços fazendo degraus em suas vertentes. Cada terraço é feito de pedra e barro do tipo Adobe.
O centro da antiga cidade estava todo limpo e restaurado. Era majestoso.  Havia a praça central toda murada em blocos de pedras e sua entrada era formado por um portal monolítico todo esculpido com tamanha destreza. Dentro da praça encontrava-se o famoso “portal do sol”, talvez uma espécie de calendário agrícola. Impressionante era o salão adjacente a praça central. Situava-se no subsolo, seu formato era retangular e havia uma escadaria de acesso. Tinha aproximadamente dois metros de profundidade e seu contorno era feito de pedras. Dentre as pedras havia imensos rostos esculpidos. Sua aparência era bizarra e monstruosa.
Os Tihuanacos foram uma civilização pré-Incaica de grande influencia cultural para seus sucessores. Segundo relatos de informantes e moradores locais, a cultura Inca teria surgido próximo ao Titicaca em uma bela Ilha chamada “Islã Del Sol”. Reza a lenda Aimara que habitantes dessa Ilha foram os primeiros Incas e desse local adiante se expandiram por quase todos os Andes. Realmente nessa Ilha encontramos testemunhos e sítios arqueológicos semelhantes às cidades Incas que observamos próximo a Machu Picchu. Em grupo cruzamos a pé toda a “Isla Del Sol” em seu sentido Sul-Norte. O caminho, segundo os moradores, foi construído pelos antigos descendentes dos Incas. Boa parte do trecho era feito de grama e terra, com pedra em suas margens. Essas muretas nas extremidades laterais do caminho foram confeccionadas com pedra encaixada umas as outras. O caminho se passa no topo da ilha, uma vista admirável do Titicaca por todos os lados. O Lago é Azul com tonalidades esverdeadas e um brilho magnífico resplandecendo todo o brilho do sol. Durante todo caminho é possível avistar algumas ruínas pouco preservadas. No entanto, no final da trilha, na porção extremo norte da Ilha localizava a construção mais impressionante de Isla Del Sol. Primeiramente, uma grande mesa esculpida em apenas um bloco de pedra e alguns banquinhos, igualmente esculpidos, em seu entorno. Segundo os moradores era uma antiga mesa de sacrifício. Diziam os guias locais que esses precursores dos Incas costumavam sacrificar animais em oferenda aos deuses, principalmente as Lhamas e Alpacas. Raros eram os registros de sacrifício humano, e que quando feitos eram associados a grandes desastres naturais como os terremotos.
Passando a mesa de sacrifício havia uma antiga vila arqueológica que mais se assemelhava a uma espécie de labirinto de pedras. Possuía inúmeros salões e áreas amplas. Seu término “coincidia” com uma bela vista para o lago. Realmente esse antigo povo sabia onde construir seus antigos abrigos e templos. Essa mistura de exuberantes paisagens naturais mesclada com toda uma imponente cultura material parecia ser a maior característica desses povos, pelo menos para os observadores de hoje. 

(David Lugli)



O MENINO DA CHUVA

Era final de Março, dia de intensa tempestade, os meninos andavam de bicicleta procurando abrigo. Carlos, o menor, se desviou da turma, se perdeu em meio ao turbilhão de chuvas. Não enxergava um palmo à frente de seus olhos e decidiu acelerar a pedalada para alcançar seus amigos. De repente, bruscamente, caiu o menino, se esfolando todo naquela rua enlameada.
Ficou estendido na rua, desmaiado no barro por longo tempo. Perderá a consciência quando bateu, repentinamente, sua cabeça no chão. Não tinha noção de tempo nem de espaço. A chuva já afinara, mas, o menino não sabia nem onde estava. Em momento oportuno surge uma mulher, uma senhora das redondezas e apanha o menino nos braços. Leva-o para sua casa. Lá, grita a seu marido Afonso para ir pegar os medicamentos de ferimento. Após o feito, Afonso parte para a rua do acidente para apanhar a bicicleta do menino.
A mulher, também conhecida por Dona Rosa, trata com esmero os ferimentos do menino, como fosse de seu próprio filho. Seu marido pergunta-lhe o nome e onde ele mora. O menino ainda confuso, atordoado pelo acidente, pela casa onde está, pelas pessoas que vê, responde com dificuldade: Carlos. Chamo-me Carlos. Moro na Rua Jabuticabeiras, na Vila dos Pomares. O olhar de Afonso para Dona Rosa, nesse momento, foi inevitável.
O casal que acolheu o menino era residente da favela Mãe Maria, próximo a área nobre da cidade, a Vila dos Pomares. Praticamente todos os moradores da comunidade Mãe Maria trabalhavam nas casas dos Patrões dos Pomares, como eram chamados os residentes daquele “nobre bairro”. Eram, em sua grande maioria, carpinteiros, motoristas, jardineiros, caseiros, domésticas, etc. No caso de Dona Maria, era dona de seu lar, apenas, mas com muito orgulho. Afonso fazia serviços gerais, quando menino trabalhou na funilaria do seu pai, depois se tornou eletricista por influência do tio e, finalmente, por si só, aprendeu a cultivar plantas e legumes e exercia também o oficio de jardineiro.
Após os curativos, Dona Rosa preparou um café bem forte para o menino. Fez um saboroso bolo de milho. Lavou-lhe as roupas sujas e lhe deu roupas novas e cheirosas de seu falecido filho, que por coincidência, na hora de seu padecimento, tinha a mesma idade de Carlos, dez anos.
Conversaram na salinha humilde. Dois sofás encostavam-se a duas paredes cegas. Na outra havia uma janelinha que dava para viela de frente. Ao lado o acesso a cozinha e logo à frente o único quarto da casa. Em um golpe de olho poderia ver quase toda a residência.
O menino abriu a sua mochila, tomou seu caderno de escola e mostrou a Dona Rosa e seu marido. Olha que linda letra ele tem Afonso! Exclamou a dona de casa. Sim com certeza este menino é muito inteligente, retrucou-lhe o marido. Carlos ainda mostrou para o casal o livro que estava lendo, falava sobre deuses e sábios da antiguidade. O material estava meio molhado, mas sua mochila de tecido grosso havia protegido seu caderno e livro. Passaram horas conversando na salinha, o menino não se dava conta que sua família estava a sua procura e o casal se esquecerá que este não era seu filho.
De repente toda aquela emoção do momento foi rompida, gritavam-lhe pelo nome, na rua de cima: Carlos, Carlos! Eram seus irmãos, seu pai e os amigos que lhes mostravam o caminho da ultima vez que viram o menino. Carlos agradeceu a benfeitoria ao casal, deu um beijo em Rosa, apanhou sua mochila e bicicleta e partiu ao encontro daqueles que lhe procuravam.
Carlos a partir desse dia nunca esqueceu Dona Rosa e Afonso. Olhava sua bela casa, sentia seu conforto, mas na verdade queria estar na casa daquelas singelas pessoas. Era apenas um barraco, mas tinha sentimento, emoção, vida. Nada era artificial, tudo era feito com paixão, e as poucas horas que Carlos ali ficou lhe ensinaram isto.
Toda tarde quando saia da escola Carlos se apressava para fazer uma visita ao casal acolhedor. Todo dia a mesma rotina. Carlos chegava à casa de Dona Rosa e o bolo com café já estava posto a mesa. Conversavam sobre todos os assuntos: escola, literatura, estórias. Ficavam por longas horas se divertindo, e antes do anoitecer Carlos se despedia e retornava ao seu lar verdadeiro. Seu pai sempre ocupado, viúvo, não fazia conta das visitas do filho para aquele casal. Só lhe pedia que voltasse antes do anoitecer, pois julgava a favela Mãe Maria como um lugar perigoso.
O menino tornou-se homem na comunidade. Conhecia toda vizinhança. Por anos freqüentava a favela e praticamente passou sua infância e começo de adolescência naquele lugar. Aprendeu muito. Coisas que não se via em seu bairro. Humildade, solidariedade, viver em comunidade foram alguns dos aprendizados. Certa vez colaborou com a família do Seu Dracir a construir sua casa. Foi um belo mutirão que se viu. Todos na rua colaboraram. Todos os dias ele fazia um pouco de tudo, carregava tijolos, confeccionava a massa de cimento, assentava o piso. Foram dois meses de muito trabalho, mas também muito divertimento. O povo era feliz, depois do expediente faziam um jantar comunitário na capelinha do bairro e todos conversavam alegremente. No final da construção, Dracir fez um belo churrasco e convidou a todos para celebrar. Nesta oportunidade Carlos também chamou seu pai, Cirurgião de um renomado hospital da cidade, para se juntar a seus amigos. Foi uma linda tarde, como nunca mais se viu por aquelas bandas.
Carlos cresceu e foi à universidade estudar economia. Seu pai desejará isto a seu filho e Carlos não se opunha, achava até interessante. Aos poucos Carlos deixou de visitar o pessoal da comunidade Mãe Maria. Já não havia tempo para isto. O estudo e os estágios lhe ocupavam quase todo tempo. Seu pai, influente na cidade, abrira a porta para Carlos conhecer os mais renomados economistas e empresários da região. Terminou o curso com mérito e logo se envolveu na política municipal.
Agora, Carlos fraternizava apenas nas rodas políticas e empresariais da alta sociedade. Ainda mostrava-se humilde, seus ensinamentos não foram perdidos, mas pouco a pouco se tornavam opacos, sem brilho. O povo da comunidade: Dona Rosa, Afonso, Seu Dracir e todos os outros, sentiam a falta daquele menino-moço, não mais o viam por aquelas bandas.
O povo da Mãe Maria vivia épocas de tensão. A cidade crescerá e ganhará importância e posição de destaque econômico no estado. A cidade recebia a cada dia novos moradores dispostos a investir no ramo imobiliário. O município não era tão grande em extensão territorial e a favela Mãe Maria travava o crescimento da malha urbana na zona oeste da cidade. Na câmara dos vereadores já haviam aprovado a construção do Bairro dos Prazeres naquela área e a justiça já tinha dado a desocupação daquelas terras em favor do município.
O prefeito da cidade retardou o projeto da construção de um novo bairro naquele local. Era época de eleições e como a maior parte dos moradores da comunidade tinha o titulo de eleitor na cidade, preferiu-se evitar o transtorno eleitoral do colegiado, por hora.
Golpe do destino, nesse mesmo ano, Carlos iludido com o poder político se candidatou a prefeito. Tinha uma imagem ótima, filho do Cirurgião Doutor Carlos Camargo Filho, formado em economia pela maior universidade do país, jovem, eloqüente, bonito, com bom circulo de amizades. Não demorou muito para cair nas graças do povo. O pessoal na comunidade logo manifestou seu apoio ao “menino”, talvez fosse à única salvação para toda aquela gente. “Ele há de lembrar onde cresceu”, exclamou Dona Rosa.
Carlos venceu com folga o antigo prefeito da cidade, o velho e rabugento Maciel Medeiros.
De fato, Carlos tinha um belo projeto para sua comunidade, regularizar as terras, construir casas populares financiadas pelo governo federal em auxilio aos municípios em desenvolvimento econômico e dar uma condição melhor a sua segunda família.
Carlos não havia entrado nesta sozinho. Nessa de política é você e sua turma. E a turma de Carlos eram os mais eminentes empresários da cidade, donos de construtoras, casa de materiais de construção, imobiliárias e etc. Para eles, casas populares em lugar privilegiado da cidade, próximo ao centro econômico era quase uma heresia. Apresentaram ao novo prefeito uma contra proposta, um loteamento na zona leste, antigo depósito de lixo, para assentar as famílias da favela Mãe Maria. Lugar suspeito, longe da cidade, dos locais de trabalho, sem asfalto, tratamento de esgoto, água, asfalto incipiente e tudo mais. Carlos relutou em vão, sem o apoio de sua “turma” não se manteria por muito tempo no governo.
Iludido mais uma vez, assinou o contra-projeto proposto pelos empresários da cidade e autorizou a desocupação da área da favela “Mãe Maria”. Um dia antes teve um sonho, lembrou daquele belo dia, em que se perdeu por aquelas terras, conheceu uma família maravilhosa, uma comunidade exemplar e aprendeu a ser homem. Logo, em seu sonho, apareceram uns palhaços, com olhos vermelhos, sangue na boca e unhas grandes e sujas. Neste sonho, os palhaços incendiavam as casas da favela e devoravam os moradores, os que sobreviviam eram presos, algemados e jogados no lixo, como carniça. Carlos acordou em prantos, não suportava aquela visão.
O dia D chegou, logo de manhã cedo, os policiais militares já estavam a postos, armados até os dentes em caso de algum protesto mais exaltado. O povo relutou pouco, as mães choravam, os pais apanhavam o que tinham de mais importante e os filhos andavam pelas vielas da comunidade pela ultima vez. Carlos não teve coragem de comparecer. Ficou em seu gabinete. Triste, mudo, naquele dia não recebeu ninguém. A maior parte das famílias saiu de suas casas, mas permaneceram próximo ao local. Quiseram ver as maquinas destruindo em um dia os sonhos de muitos anos. Era uma comunidade pobre, é bem verdade, mas conheciam bem os princípios solidários que não regem mais nossa sociedade.  Meses depois foram transplantados para o novo bairro na periferia da cidade – Vila dos amores – onde só havia tristeza e lamentações. O local era fétido, por conta do antigo lixão, havia doenças de ratos e tudo mais, não havia transporte eficiente e a água ainda não era 100% tratada. Varreram a comunidade para o lixo, como carniça, igual ao sonho de Carlos.
No mesmo dia em que as famílias receberam suas novas casas, no bairro dos amores, Carlos assinou sua saída do cargo de prefeito da cidade das ilusões, recolheu-se em seu sítio a 20 km do município e nunca mais foi visto pelo povo da antiga comunidade Mãe Maria.
Dizem por aí, que o antigo prefeito ficou louco, e todos os dias manda centenas de cartas para a Vila dos amores pedindo perdão pela sua traição. O povo de fato comenta este acontecido, mas ninguém verdadeiramente da muita atenção, com tantos problemas em seu dia-dia, já se esqueceram por completo do menino que apareceu em um dia de chuva e foi tratado com enorme cordialidade por aquela comunidade. 

(David Lugli)

DIÁRIO DE BORDO: MACHU PICHU

Estávamos todos naquele trem, a surpreendente viagem de três dias entre os limiares dos Andes até a cidade pré-histórica de Machu Pichu havia sido desgastante, porém magnífica. Havíamos passados três dias de caminhada no coração das montanhas atravessando florestas, bosques e regiões secas também chamadas de estepes. Ao longo desse trajeto avistamos diversos sítios arqueológicos com diferentes funções dentro da sociedade Inca. Com certeza em meu coração algo dizia que tudo isso que havíamos visto e compreendido era apenas um aperitivo para o que viria a ver no final dessa longa caminhada – A cidade perdida por séculos de Machu Pichu.

LEMBRANÇAS EM UM TREM
Lembro-me ainda daquele momento no trem, a Isis e o Mago estavam sentados juntos em um banco do vagão e logo a sua frente estavam João Paulo e Luis Otavio. Jogavam baralho como crianças fazendo do trajeto Águas Calhentes-Ollantaytambo um caminho mais curto. Logo ao lado desse maravilhoso quarteto estava eu e a Eriquinha, finalizando a tripulação dessa louca viagem. Sentado como quem não quer nada, apenas observando o trem cruzando os impressionantes gigantes de pedras e margeando o rio com o mesmo nome da cidade de onde partimos, entrava eu em profundo devaneio, uma espécie de efervescência e calma que tomava ao mesmo tempo meu espírito. Já começava a escurecer e o sol poente se escondia atrás
dos Andes, seu crepúsculo anunciava que partia, mas retornaria ainda mais belo no dia seguinte. Meus olhos, naquele momento, avistavam apenas uma imensa penumbra. 
Eram os últimos momentos daquele maravilhoso dia. Nesse estante lembrei-me de meu fiel companheiro de viagem – Diário de bordo – que havia carregado com tanto zelo nessa excursão. Vale contar ao leitor que esse diário era um presente que ganhei de minha adorável namorada Erica meses antes dessa grande viagem. Tinha ela feito um belo trabalho de recorte e colagem decorando o caderno com fotos de lugares que passamos e ainda iríamos atravessar no transcorrer dessa jornada. Decidi então abrir meu diário e escrever algumas palavras que ainda restavam em minha memória sobre a famosa cidade de Machu Pichu.


MACHU PICHU: A CIDADE PERDIDA
No dia passado havíamos então chegado à cidade Inca, perdida por tempos aos olhos dos conquistadores espanhóis. O nosso guia e amigo de viagem Simba bem explicou que séculos depois da conquista espanhola sobre aqueles países andinos, o curioso pesquisador Norte-Americano Hiram Binguam com ajuda de nativos locais havia finalmente localizado as ruínas no altiplano peruano. Um ano após essa surpreendente descoberta esse pesquisador conseguiu fundos para pesquisas nessa área. Foi então em 1911, após quase 400 anos obscura aos olhos do mundo, que a cidadela de pedra começou a ser escavada e documentada em uma épica edição da revista National Geographic. Realmente os antigos construtores Incas souberam ocultar essa maravilha sagrada aos olhos dos estrangeiros. Não contavam eles em sua época com a ganância de alguns homens locais conhecidos também por “vaqueiros” que por anos saquearam os tesouros daquela antiga civilização.
Após esse longo período de grandes descobertas, escavações magníficas, documentações precisas e construções de museus para acolher algumas das peças mais importantes, a velha cidade passou a despertar curiosidade aos turistas, principalmente por sua beleza, engenharia e construções enigmáticas. A cidade é toda espetacular, ainda na trilha Inca a alguns quilômetros do local é quase impossível avistá-la por inteiro. O nevoeiro e seu eterno vai e vem mostra realmente que a cidade foi construída sobre as nuvens. Só quando você está lá, dentro da cidade é que se da conta que realmente entrou em Machu Pichu. Hoje a cidade recebe visitas de milhares de turistas vindos do mundo inteiro a fim de viver essa experiência inacreditável. 

CONHECENDO A CIDADE
Dentro da cidade logo se percebe que ela foi construída sobre o cume de uma montanha, cercada por tantas outras. Então não é difícil de perceber que fora do perímetro urbano encontram os imensos precipícios. Daí se entende a dificuldade de achar essa cidade no transcorrer do tempo. As construções são todas magníficas, dotadas de uma engenharia ainda hoje insuperável. Na área nobre da cidade onde se localizam os templos e as moradas da nobreza impressiona-se ainda mais com as construções. Parecia, a meus olhos, que eles brincavam com os imensos blocos de pedras trabalhados. Havia, me lembro bem, o templo do Sol, não era muito grande em tamanho, mas sua beleza era magistral. Havia a grande porta de pedra que dava inicio a caminhada do templo. As pedras que compunham aquela magnífica construção eram todas encaixadas perfeitamente, pedra sobre pedra. Não havia como passar um fio de cabelo se quer sobre o vão que separava as rochas. Subindo sobre o templo e indo em direção ao observatório, a área mais alta da cidade, a vista era perfeita, me sentia totalmente entre as montanhas que compõem a cordilheira e observei que logo a minha frente havia um corte entre elas e o inicio de uma grande planície. Os incas como exímios construtores fizeram nessa área mais alta uma maquete dessa vista magnífica em um único bloco de pedra. Perfeita também era uma pedra encravada no chão que apontava os quatro pontos cardeais. Nessa oportunidade o guia nos explicou que o ponto sul e norte eram os maiores dos pontos cardeais, pois foram onde os Incas avançaram mais com sua civilização, chegando ao norte no território onde hoje é a Colômbia e ao sul na Argentina e Chile. O ponto oeste era um pouco menor e dizia o guia que se direcionava ao Pacifico. Finalmente o ponto leste, o menor de todos ia em direção a floresta Amazônica onde os Incas não avançaram por conta das doenças tropicais. Para concluir os incas moldaram essa rocha de uma forma que em determinadas épocas do ano ela projetasse sobre o solo a figura da cabeça de uma ilhama, animal símbolo da cultura Inca que impulsionou o seu avanço sobre esses extensos territórios.

OS INCAS E OS INCAPAZES
Lembro também que em um local mais abaixo do observatório havia um conjunto de pedras semi trabalhadas que pareciam algo experimental. Esclareceu novamente o guia que àqueles imensos blocos de rochas eram “restos” que os construtores deixaram para trás, pois, provavelmente não seriam mais utilizáveis na construção da cidade. Os pesquisadores atuais resolveram então solucionar o mistério da engenharia Inca sobre aqueles blocos. Alguns tinham furos onde os estudiosos injetaram toras de madeira. Logo após a inserção da madeira, molhavam essas toras para que seu volume aumentasse. Esse processo aparentemente simples fazia com que a rocha se rompesse. Por algum motivo elas se rompiam irregularmente e nem de longe pareciam às maravilhosas pedras confeccionadas pelos Incas. Só a titulo de curiosidade 70% da cidade de Machu Pichu contem sua estrutura original feita pelos Incas. Os outros 30% foram restaurados por pesquisadores, que com essa técnica grosseiramente narrada por mim foram chamados de Inca (pazes) por não apresentarem o mesmo método apurado dos antigos construtores.

O “PUEBLO”
Mas o que realmente me chamou a atenção foi à parte popular da cidade, o chamado “pueblo”. Viviam eles (o povo inca) no passado como nós em suas casas, de pedra é claro, separadas por cômodos a milhares de metros de altura. Como era de se esperar a segregação social já se fazia presente também nessa cultura. A área nobre da cidade era separada da área popular por imensos terraços centrais. Suas casas eram construídas mais grosseiramente, o lascamento da pedra não era trabalhado como nos templos. Por conta disso eles necessitavam de uma argamassa para dar encaixe às lascas de pedra. Sentia-me em um labirinto caminhando por aquele antigo e desabitado bairro popular. Os únicos moradores eram as Alpacas e Ilhamas que viviam soltas naquele local, atestando hoje os resquícios da antiga vida na cidade. Provavelmente como hoje, elas viviam pastando naqueles sítios e eram criadas com zelo pelos antigos moradores, pois além de fornecerem a carne essencial naquela altitude também davam a lã para se aquecerem contra o frio. As escadarias levavam-me de uma parte a outra, horas ficava perdido, horas achava que estava sempre no mesmo lugar, a mim pareciam casinhas feitas pela CDHU. Esplendido era retornar, mesmo que sem alguns detalhes, para a vida cotidiana do povo que com raça construiu e deu vida a aquela cidade que o mundo hoje passou a admirar.
Caixa de texto: LOS ANDES
Fechei meu diário de bordo com uma estranha sensação. Havia escrito minhas lembranças recentes, mas me parecia que ainda tinha muito a ser dito. No entanto essa sensação não era de se estranhar, havia percorrido um longo caminho até a cidade perdida, chegando a ela entrei de braços abertos a todo tipo de emoção e elas me invadiram o coração sem licença. Não seriam em simples palavras, fruto de lembranças imperfeitas que elas seriam aqui descritas.