terça-feira, 13 de dezembro de 2011

DIÁRIO DE BORDO: DESERTO DO ATACAMA E ISLA DEL SOL

Dentro de um acampamento de base em pleno deserto do Atacama esboço as seguintes palavras. Olhando através da imensa paisagem vejo o grande deserto, uma mistura de inspiração e vontade me fazem escrever essas linhas. As lembranças afloram como os grandes lagos do deserto. Sua riqueza geográfica e cultural é fundamental para essa memória.
O deserto que agora admiro é paisagem em território Boliviano, mas venho vendo essas semelhanças geográficas desde Arequipa no Peru. No Chile ele é tão esplêndido como aqui na Bolívia.
Os aspectos físicos se misturam com a história e a cultura Andina. A cultura desses povos é extremamente rica e é impossível dissociá-la da paisagem.
Historicamente muitos grupos humanos viveram nessa região e muito de seus testemunhos ainda estão presentes. Os Incas, com certeza, foram os mais famosos, mas também houveram outras culturas, outros povos, como os Tihuanacos, antigos habitantes das planícies próximas ao Lago Titicaca, entre a Bolívia e o Peru. Eram hábeis construtores de pirâmides de pedra. Adoravam Pachamama, mãe do tempo e de toda a natureza. A cidade de Tihuanaco, hoje escavada por arqueólogos, apresenta toda manifestação da cultura material desses povos. Entramos na cidade e nos deparamos com uma pirâmide. Não é uma convencional, como as Egípcias que costumamos ver nos documentários. São pirâmides com terraços fazendo degraus em suas vertentes. Cada terraço é feito de pedra e barro do tipo Adobe.
O centro da antiga cidade estava todo limpo e restaurado. Era majestoso.  Havia a praça central toda murada em blocos de pedras e sua entrada era formado por um portal monolítico todo esculpido com tamanha destreza. Dentro da praça encontrava-se o famoso “portal do sol”, talvez uma espécie de calendário agrícola. Impressionante era o salão adjacente a praça central. Situava-se no subsolo, seu formato era retangular e havia uma escadaria de acesso. Tinha aproximadamente dois metros de profundidade e seu contorno era feito de pedras. Dentre as pedras havia imensos rostos esculpidos. Sua aparência era bizarra e monstruosa.
Os Tihuanacos foram uma civilização pré-Incaica de grande influencia cultural para seus sucessores. Segundo relatos de informantes e moradores locais, a cultura Inca teria surgido próximo ao Titicaca em uma bela Ilha chamada “Islã Del Sol”. Reza a lenda Aimara que habitantes dessa Ilha foram os primeiros Incas e desse local adiante se expandiram por quase todos os Andes. Realmente nessa Ilha encontramos testemunhos e sítios arqueológicos semelhantes às cidades Incas que observamos próximo a Machu Picchu. Em grupo cruzamos a pé toda a “Isla Del Sol” em seu sentido Sul-Norte. O caminho, segundo os moradores, foi construído pelos antigos descendentes dos Incas. Boa parte do trecho era feito de grama e terra, com pedra em suas margens. Essas muretas nas extremidades laterais do caminho foram confeccionadas com pedra encaixada umas as outras. O caminho se passa no topo da ilha, uma vista admirável do Titicaca por todos os lados. O Lago é Azul com tonalidades esverdeadas e um brilho magnífico resplandecendo todo o brilho do sol. Durante todo caminho é possível avistar algumas ruínas pouco preservadas. No entanto, no final da trilha, na porção extremo norte da Ilha localizava a construção mais impressionante de Isla Del Sol. Primeiramente, uma grande mesa esculpida em apenas um bloco de pedra e alguns banquinhos, igualmente esculpidos, em seu entorno. Segundo os moradores era uma antiga mesa de sacrifício. Diziam os guias locais que esses precursores dos Incas costumavam sacrificar animais em oferenda aos deuses, principalmente as Lhamas e Alpacas. Raros eram os registros de sacrifício humano, e que quando feitos eram associados a grandes desastres naturais como os terremotos.
Passando a mesa de sacrifício havia uma antiga vila arqueológica que mais se assemelhava a uma espécie de labirinto de pedras. Possuía inúmeros salões e áreas amplas. Seu término “coincidia” com uma bela vista para o lago. Realmente esse antigo povo sabia onde construir seus antigos abrigos e templos. Essa mistura de exuberantes paisagens naturais mesclada com toda uma imponente cultura material parecia ser a maior característica desses povos, pelo menos para os observadores de hoje. 

(David Lugli)



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