terça-feira, 13 de dezembro de 2011

O MEIO

INTRODUÇÃO:

Costumamos dizer, de forma simplificada, que em geografia o que se estuda é a relação do homem com a natureza em um determinado espaço. Essa frase é batida e perpassa por todos os livros didáticos e sobre todos os pensamentos sintéticos dessa disciplina.
Neste artigo vamos falar justamente sobre essa relação – mais uma vez – no entanto, se esforçando ao máximo em narrar o fato em outros dizeres.
Primeiro não iremos usar nenhuma corrente teórica explicitamente. A proposta é dialogar de maneira aberta e instrutiva, sem nos restringirmos as dimensões acadêmicas, que separam a sociedade da universidade.
Segundo, é bem verdade, que sem conceitos definidos não chegamos a lugar algum. Os conceitos são ferramentas, nas quais nos utilizamos para trabalhar as idéias.
E terceiro não usaremos referências diretas a outros atores que pensaram sobre o tema. As idéias propostas se valem de inúmeras obras, pelas quais, não irei tratá-las especificamente, mas trabalharei a forma dos filósofos ou livre-pensadores, se isso me for possível.

O QUE É O MEIO:

A respeito do titulo escolhemos “o meio”, pois, é a chave e o conceito principal a ser discutido nesta idéia escrita. O meio é aquilo que não está nem em uma nem em outra dimensão. Ele é uma ponte entre ambas. Quando falamos de homens e sociedades, falamos de cultura. Quando falamos de natureza, falamos de selva, florestas, desertos, glaciares; falamos daquilo que passa fora da cultura humana, o desconhecido, o a “se buscar”. Dentro dessas duas dimensões, que não são excludentes, existe o meio, a ponte, a ligação, a dimensão pela qual a interação do homem se faz com a natureza. Sem o meio, o homem seria alheio a natureza, mesmo vivendo sobre ela.
O meio é o espaço de vida dos homens. É por onde a sociedade encarna na natureza. É quando olhamos para uma paisagem e vemos nossas próprias marcas. Ele não é o desconhecido, ele é a cultura e a natureza juntas, é um híbrido. O meio também encena a nossa história. É lembrança, são fagulhas de emoção, é testemunho físico de edifícios e construções, mas também, é testemunho de nossas recordações.
O meio também é equilíbrio, e se isto não for mantido, se isso não for representado, o meio, então, deixa de existir.

E SE O MEIO NÃO EXISTIR:

Em nosso pensamento, se o meio vier a não existir, se essa relação mutua entre homem e natureza não se valer mais, então uma irá se sobrepor a outra de maneira não amistosa. O meio, como já disse é o equilíbrio, e se esse encanto se quebrar, a vida se torna um reflexo, uma ação sem motivo, uma existência sem proposta.
É difícil entendermos o que é simples, divino e natural. O homem é produto da natureza, assim como as demais espécies ele é vida. O que não é vida na natureza, serve para sua manutenção. Assim é a “vida” da água, das rochas e da terra, gerar a essência de vida para as espécies. Esse é o equilíbrio natural e essa é a forma mais simplificada de se ter consciência disto. Isso é o meio.
Se o homem subjugar a natureza e tratá-la como mero recurso, então não haverá equilíbrio, nem haverá respeito com o meio. Ele certamente deixará de existir. O meio já deixou de existir em alguns cantos da terra, que só podem estar literalmente “vivos” ainda hoje, porque o meio ainda sobrevive em outros lugares. Sendo ele vida, ele é energia, e ainda alimenta as vias e circulações da terra – Já enfraquecida.
Essas palavras não são de cunho catastrófico. Nem é um alerta e muito menos uma previsão. Não o são, porque, não falo aqui apenas de homens. Falo de vida, na qual o homem faz parte. Preocupo-me com a vida na terra e sei que esta está, apenas, parcialmente ameaçada pela falta de equilíbrio do homem moderno. Digo assim, pois, sabendo um pouco sobre a história da terra, percebemos que ela, e apenas ela, é o poder criador e destruidor de vidas. O homem é parcial, interfere sobre a terra, mas não é o agente único e mais poderoso, como muitos deles acham que são. A terra é uma imensa massa de matéria e uma imensa massa de energia, infinitamente maior que a massa e a energia de toda espécie humana. Não era para ser assim, dividido, duas partes, homem e terra. Tudo era para ser uma coisa só, o homem-terra, o filho-mãe, a “essência terrestre”. Soa holístico, mas não conheço de fato essa teoria. E dessa unicidade, que hoje não existe, sobrou o meio, como testemunha da essência única.

A PARTIR DO CONCEITO DE MEIO, COMO PODEMOS PENSAR EM “AÇÃO”:

Muitas vezes é difícil passar do plano das idéias para o plano físico e material. Temos em mente que vivemos uma existência dual. No entanto, achamos necessário que nos aproximemos da unicidade, da confraternização entre o homem e a natureza. Para isso precisamos de mediadores, no qual, nesse texto, apelidamos de meio. Esse é o seu papel, mediar relações aparentemente opostas, as tornando conjuntas e transponiveis. O homem por demais já avançou na oposição. Necessitamos agora buscar o meio em todas as dimensões para diminuir as disjunções. E é no plano físico que isto se faz necessário.
Não importando onde moramos, seja na cidade ou no campo, ou até mesmo nas florestas e bosques, sempre há como se buscar a união, através dos mediadores. Ferramenta simples e eficaz, o mediador sempre andou junto ao homem primitivo. Talvez seja por isto que esses povos respeitaram tão bem a natureza. O mediador funciona como um interlocutor entre um e outro, entre as oposições aparentes. Para citar um exemplo: Até hoje, estávamos mergulhados nas oposições. Subjugávamos a natureza. A destruímos por completo em alguns pontos. Não sentíamos a sua aniquilação. Hoje o homem já tem a necessidade de reatar a sua união. Para isto foram feitas as legislações de proteção ambiental, por isso surgiram disciplinas para tratar o assunto – como a ecologia - novos ambientalistas assumem a postura de defensores da natureza com projetos criativos, e a cada dia se valorizam as culturas indígenas que ainda são detentoras desses saberes.
Se você vive na cidade e quer reatar-se com a natureza, com o todo, use o mediador do produtor. O produtor é aquele que fornece a vida através de seu trabalho e de sua sensibilidade. Compre vasos, alimente a terra com material orgânico que usa em seu dia a dia. Guarde as sementes dos alimentos que consome. Plante-as, cuide-as e as colhas. Isso é mediar, reatar a união, atravessar a ponte que liga o homem à natureza. Ou então, se viver no campo ou na floresta, e já está acostumado a ser produtor, seja, então, um manejador. Maneje e enriqueça a natureza disposta ao seu redor. Faça um banco genético de mudas. Passe o dia na floresta coletando sementes da mata e as replante em lugares degradados, as reproduza. Enriqueça a ti e a sua natureza ao mesmo tempo, quanto mais mediar, mais reduzirá as oposições que nos separam.
Pronto, é simples assim. Você poderia dar mais um milhão de propostas. Seja criativo, seja mediador e reate os laços que foram perdidos em um momento da história.

(David Lugli)



2 comentários:

  1. Simplesmente rompendo os limites do raciocínio e da escrita. Não pare, continue, publique-os. Não dá vontade de para de ler. Parabéns seu barrota.

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  2. Valeu João, sempre que puder e quiser pode participar com suas reflexões, opiniões e etc. Abração meu querido! (David)

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